Autopsicogr afia unhas
O gato é um esfingidor
Que esfinge tão completamente
Que chega a esfingir que dorme
Enquanto espreita e tudo sente.
[Thominha Pessoa, 2008]
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O gato é um esfingidor
Que esfinge tão completamente
Que chega a esfingir que dorme
Enquanto espreita e tudo sente.
[Thominha Pessoa, 2008]
DOMINGO
Domingo, quando o sol se põe mais cedo
quando a Lua vem mais tarde
e entre estes dois acontecimentos
toda a atenção está no céu.
Céu, um pano preto
sobre o qual se sobrepõem manchas transparentes
a que chamam nuvens.
Domingo, quando o dia é apertado
quando há esperança que Segunda não exista
e a Lua, que não deve ser esquecida,
passa a ser o elemento positivo
dentro desta amálgama de pensamentos.
Domingo, quando Sábado é passado
quando a luz é apagada incontroladamente
e a chama se extingue com o frio
e não com um sopro.
Domingo, quando os olhos se fecham
porque assim deve ser.
PEIXARIA
Não sou nada
mau.
Nunca serei nada
mau.
Não pretendo nada vir a ser
mau.
À parte isso, tenho em mim todas as traquinices do mundo.
(Come patézinhos de atum pequena;
Come patézinhos!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão patézinhos).
Mas o Dono da Peixaria chegou à porta e ficou à porta.
E o meu doninho entrou na Peixaria
(para comprar carapaus???),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Volto momentaneamente para a cadeira
ronronando.
Enquanto o destino mo conceder, continuarei ronronando.
(Se eu casasse com a gata da lavadeira
Talvez fosse ainda mais feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O doninho saiu da Peixaria
(metendo o troco na algibeira das calças?).
Como por um instinto divino voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, miei:
- Anda p'ra casa doninho!
E a porta abriu-se
e ele entrou
pousou as compras,
e o Saco da Peixaria
sumiu.